segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Escolaridade em ciclos - Desafios para a escola do século XXI


FERNANDES, Cláudia de O. A Escolaridade em Ciclos: Desafios para a escola do século XXI. RJ: WAK Ed, 2009.

Neste livro, Claudia Fernandes discute a tentativa de repensar a escola, sua (re) significação. A implementação dos ciclos ao longo das duas últimas décadas, caracteriza-se por uma tentativa da escola brasileira de superar o fracasso escolar, representado aqui com altos índices de repetência e evasão e, principalmente, o baixo desempenho dos estudantes. O livro apresenta a tese de que a escola em ciclos abriga diferentes lógicas de concepções e de funcionamento, é a desestabilização de uma ordem já estabelecida há séculos (sistema seriado) e os profissionais da educação estão construindo outras bases teóricas para a escola nesse começo de século XXI.
*** Simone Marta N. da Silva
Deixo aqui, alguns trechos do livro que merecem destaque:

1. Embora essas diferentes experiências e propostas tivessem suas peculiaridades, tinham em comum partir da premissa de que era necessário no ensino fundamental um sistema de avaliação que não excluísse o aluno da escola, tentando amenizar ou até resolver o problema da evasão e da repetência e, desta forma, contribuir para a melhoria da qualidade do ensino público. (FERNANDES, p.27)
* A autora pontua que a implementação dos ciclos ao longo das últimas décadas era excludente. Excluía os alunos das classes menos favorecidas (social e economicamente) da população. Fernandes relata então a implementação dos ciclos em diferentes redes de ensino no Brasil: em 1983, na rede estadual em SP, onde se instituiu o Ciclo Básico de Alfabetização para todas as escolas, tendo como marca principal alterar o sistema de seriação. Em MG, a partir de 1985, em caráter experimental, implementou-se o Ciclo Básico de Alfabetização, tornando-o oficial em 1990. No RJ, no final da década de 70 e início dos anos 80, implantou-se o Bloco Único: dois primeiros anos de alfabetização como um único ciclo e sem reprovação. SC teve experiência semelhante também na década de 80. No PR, o Ciclo Básico foi implantado em 1988 e 1989 sendo que em 1990, atingiu todas as escolas estaduais. Em comum, a necessidade de um sistema de avaliação que não excluísse o aluno, na tentativa de superar o fracasso escolar, aqui representado pela repetência e evasão escolar.
 
2. Podemos notar que a origem da implantação dos ciclos acontece a partir de justificativas não só pedagógicas mas também políticas. ( FERNANDES, p.27)
* Inicialmente, a ideia das escolas organizadas em ciclos associa-se pela não exclusão dos estudantes pertencentes das classes menos favorecidas. Além disso, visa amenizar ou resolver os elevados índices de repetência e evasão escolar. Melhorando assim a qualidade de ensino. Dessa forma, a implantação dos ciclos envolve essas justificativas pedagógicas e políticas.

3. Perrenoud defende a implantação do sistema de ciclos nas escolas, a partir de uma Pedagogia diferenciada, que tem como um de seus pressupostos os ciclos de aprendizagem plurianuais. (FERNANDES, p.41)
* As pesquisas e proposições de autores estrangeiros, como Perrenoud tem servido também de fundamento teórico para o sistema de ciclos. Para a formação de ciclos plurianuais, Perrenoud tece justificativas relacionadas às teorias de aprendizagem como também às práticas escolares, à organização do trabalho docente, à estruturação da escola e do sistema escolar. Perrenoud (2002b, p.37) distingue três conceituações para os ciclos:
** Pólo Mais Conservador **
Não provocam mudanças na organização curricular, na organização do trabalho docente, nas práticas de ensino. Dessa forma é mantida a mesma lógica de organização escolar e das práticas pedagógicas. A seriação e a avaliação classificatória permanecem.
1. Ciclos de Estudos: série de etapas anuais com programas de mesmo tipo. A repetência de uma etapa é possível.
2. Ciclos de Aprendizagem: possui as mesmas características dos ciclos de estudo, mas não há repetência no interior dos ciclos, exceto em seu último ano.
** Pólo Mais Inovador **
3. Ciclos Plurianuais: Ocorrem profundas mudanças na organização do currículo, do trabalho escolar e das práticas. Há uma predominância das orientações construtivistas em relação aos processos de aprendizagem, uma nova concepção para a utilização dos tempos e dos espaços escolares, dos saberes, sistemas de avaliação, metodologias de trabalho, didática e com relação às competências necessárias para a criação de uma escola que seja inclusiva e democrática

4. A partir dessas considerações, podemos afirmar que a escola em ciclos é uma escola conflituosa, uma vez que vem operando a partir de duas lógicas que exigem um planejamento e uma organização tanto da escola quanto da sala de aula, na maioria das vezes, bastante distintos. (FERNANDES, p.44)
* A lógica da escola seriada e da escola ciclada são distintas, por isso caso a escola ciclada esteja operando com a mesma estrutura da escola seriada, apenas mudando-se a nomenclatura, gera-se conflitos. Pois abrigaria assim, diferentes lógicas de concepções e funcionamento.

5. Retornando o debate acerca do fracasso escolar, esse se intensifica quando a maior parte da população passa a ter acesso à escolarização e a partir do momento em que o direito à educação básica se universaliza. No entanto, apesar desses avanços, a escola ainda mantém a mesma "ossatura rígida e excludente de um século. Continua [com] aquela estrutura piramidal, preocupada apenas com o domínio seriado e disciplinar de um conjunto de habilidades e saberes" (ARROYO, 2000, p.13), sem se organizar a partir de uma lógica de tempo, espaço e conhecimento cujo contexto atual se estrutura. (FERNANDES, p.63)
* Apesar dessa nova lógica do sistema ciclado que (re) estrutura a lógica do tempo, espaço e conhecimento, a maioria das escolas ainda mantêm o sistema seriado. Um sistema classificatório e excludente que não atende mais as exigências para essa nova escola do século XXI.

*** Graduanda do curso de Pedagogia da UERJ.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A escola repensa a democracia - Ed. 146


Revista Educação

A Escola Repensa a Democracia

Astronomia - Pelo Telescópio
O ano de 2009 marca os quatro séculos das observações de Galileu Galilei que mudaram a ciência. Observação do espaço e dos planetas ajuda estudantes a entender fenômenos da natureza

Educação Infantil - Hora de Avaliar
Indicadores devem levar instituições a refletir sobre suas práticas
Definição de indicadores de avaliação próprios, aferidos por meio de autoavaliação, promete melhorar a reflexão dos profissionais sobre suas práticas

Direito à Educação - O Tempo do Judiciário
Desembargador paulista constata processo de "judicialização" do mundo e defende que juízes não fiquem presos em camisas de força normatizoras

Direito à Educação / Estados Unidos - Em Meio Século, A Virada
Decisão da Justiça americana nos anos 50 deu um basta à igualdade segregacionista e abriu as portas para o convívio entre negros e brancos

Evasão Escolar - Escola, Uma Questão de Desejo?
Pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas aponta a falta de interesse como o principal motivo da evasão escolar no país

Espaço Público - Trem das Onze
Diferentemente do samba de Adoniran Babosa, em que o retorno para casa se devia à solidariedade do filho, agora a obrigação de chegar cedo é resultado de decisão de juízes de cidades do interior paulista

Edição: 146 - Junho 2009
Tamanho: 25 mb
Formato: pdf
Páginas: 76

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ciclos de Desenvolvimento Humano e Formação de Educadores

Revendo as tradicionais formas de ensino, Miguel Arroyo, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em seu artigo Ciclos de Desenvolvimento Humano e Formação de Educadores (publicado na revista Educação e Sociedade, vol.20, n.68), analisa a implementação do sistema de ciclos e a necessidade de "formação" ou "capacitação" dos educadores para que esse sistema dê certo. Para Arroyo, propostas inovadoras não se implantarão seguindo a racionalidade técnica e a lógica dedutiva. Assim, cabe aos educadores, repensarem seus papéis sociais e modificarem suas práticas, diante do que determina a legislação e as condições que lhe são oferecidas. As propostas que ele acompanha, não seguem a lógica tradicional, mas pretende superá-la. Onde é necessário um novo olhar para superar essa visão tradicional. E, organizando os processos educativos em Ciclos de Desenvolvimento Humano ou tendo como princípio o desenvolvimento humano, nos coloca ou recoloca na dimensão do fazer educativo, do ofício de educadores.




 

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ensino Fundamental de 9 anos

Cumprindo as determinações do governo federal, em 2010 todas as redes de ensino do país devem matricular os alunos com 6 anos no 1° ano.
Os objetivos do MEC são vistos como um avanço, pois ocorre assim uma democratização do acesso escolar. Além disso, a tendência é obter resultados superiores no futuro, com esse ingresso mais cedo.
Para que esse novo modelo seja implementado, uma série de alterações são necessárias, como: reorganizar o quadro docente, comprar e adequar o mobiliário das classes, oferecer capacitações, construir um currículo e outras tantas medidas.
O eixo da polêmica se encontra na organização do currículo e na alfabetização. O que não significa antecipar os conteúdos e as atividades que foram até então adequados à primeira série. Ou apenas mudar a nomenclatura sem fazer as adaptações necessárias para a implementação dessa mudança. Havendo a necessidade de se construir uma nova estrutura e organização dos conteúdos do ensino fundamental, agora compreendido com nove anos.



Baseada em uma reportagem de Arthur Guimarães e Bianca Bibiano para a revista Nova Escola: Prepare-se! Um novo aluno está chegando e em um documento produzido pela Secretaria de Educação (SEB) do Ministério da Educação, Ensino Fundamental de nove anos: orientações gerais, traço outras considerações sobre o tema:

 Ensino Fundamental de 9 anos

Nova lei
De acordo com a lei de número 11.274, aprovada em fevereiro de 2006, o Ensino Fundamental brasileiro passa a ter nove anos. Dessa forma, amplia-se a duração do ensino fundamental de oito para nove anos. As crianças, ao invés de entrar com 7 anos de idade, entram com 6. Outra lei, 11.114, de 2005, que alterava a LDB (Lei nº 9.394, de 96), já aceitava a matrícula de alunos com seis anos de idade no ensino fundamental. Os Estados e municípios terão até 2010 para se adaptarem à nova lei.


De 10 de maio de 2009 a 10 de junho de 2009, NOVA ESCOLA fez um levantamento sobre a implementação do Ensino Fundamental de 9 anos em todas as Secretarias de Educação dos estados e das capitais. Das 53, sete não responderam às questões. Até o fim da coleta de dados, apenas o Amapá e a capital de São Paulo ainda não tinham começado a implantar o novo modelo (veja o gráfico acima).

Mesmo assim, dez estados e nove cidades informaram não ter matriz curricular, o que indica que a ampliação se deu sem um documento para guiar o trabalho. Outro problema é estrutural: apesar da alta adesão, 11 estados e sete capitais não fizeram adaptações para atender ao novo modelo.
Fonte: NOVA ESCOLA

Objetivos
O objetivo do MEC é colocar mais crianças nas escolas e proporcionar mais tempo de escolaridade aos estudantes brasileiros. Assim, assegura-se a todas as crianças um tempo maior de convívio escolar, maiores oportunidades de aprendere e dessa forma, uma aprendizagem com mais qualidade.

Currículo e conteúdo
No novo modelo, os conteúdos serão aplicados de forma mais lúdica, valorizando as características de cada criança. Os currículos estão sendo debatidos pelos conselhos estaduais de educação juntamente com as escolas.

Em Rio Branco, antes da implementação do Ensino Fundamental de 9 anos, em 2006, a prefeitura, em conjunto com o governo estadual, iniciou um programa de formação com todos aqueles que trabalhavam com crianças de 6 e 7 anos. Na mesma época, a prefeitura submeteu todos os alunos dos dois níveis a uma avaliação para detectar os pontos problemáticos. O diagnóstico guiou os trabalhos dos grupos de formação, que posteriormente passaram a incluir também os coordenadores pedagógicos. "Ao discutir conjuntamente os resultados dos testes, percebemos que as dúvidas não estavam apenas em como construir o currículo, mas igualmente no que é um bom currículo", argumenta Lígia Ferreira Ribeiro, diretora do Departamento de Ensino da Secretaria Municipal de Educação da capital acriana. A gestora lembra que mesmo professores com curso superior confundiam objetivo, conteúdo e atividade. "Por isso, muitos treinamentos não davam resultado e os professores saíam sem saber planejar." Duas atitudes foram tomadas para reverter o quadro. Primeiro, os temas desconhecidos viraram alvo das capacitações. Segundo, com a ajuda financeira do governo estadual, uma consultoria foi contratada para montar a nova matriz curricular para todo o Estado. Nessa parceria, ficou decidido que a rede precisava de um documento que detalhasse as expectativas de aprendizagem e as tarefas necessárias para alcançá-las.
Ao acompanhar trechos da proposta de Rio Branco pode-se notar que ela segue alguns preceitos básicos e o que é recomendado pelos especialistas. Para começar, os objetivos traduzem capacidades a serem adquiridas pelas crianças. Depois, os conteúdos a serem ensinados são necessários ao cumprimento dos objetivos. Além disso, as atividades ou as situações de ensino e aprendizagem trabalham os conteúdos propostos e são privilegiadas as metodologias que envolvem a resolução de problemas e em que a exploração, a experimentação e o uso do conhecimento disponível servem de base para uma posterior sistematização. Também não há atividades que peçam a simples memorização ou o acúmulo de conhecimentos não provados em situações de uso. Por fim, tem destaque as situações em que é possível avaliar a aprendizagem dos temas vistos. Definida uma estrutura básica nesses moldes e superados os obstáculos iniciais com relação à equipe, a rede começou a trabalhar em uma nova perspectiva.

Metodologia e avaliação
A metodologia de avaliação também vai sofrer alterações. O MEC quer romper com a prática tradicional de avaliação por notas ou conceitos. Assim, acaba-se também com o sistema classificatório dos alunos a partir desse tipo de avaliação. Podendo-se também trabalhar com a transdisciplinalidade. Com o aumento do tempo de alfabetização, respeita-se o tempo de aprendizagem de cada aluno.

Outras adaptações
Adaptações nas salas de aula também são necessárias para que esses ambientes, onde as crianças irão estudar e brincar, além das atividades propostas, lembrem os momentos proporcionados pela Educação Infantil.


Ilustrações: Mariana Coan/Fotos: Paulo Vitale
Baixar infográfico acima AQUI

Professores
Quanto a atuação dos professores no novo Ensino Fundamental depende do tipo de contratação. Segundo o MEC, algumas leis permitem que os educadores trabalhem tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental. Cabe aos professores cobrar das autoridades a execução várias medidas para a melhor adaptação. Por lei, é preciso construir salas de aula, reorganizar o quadro docente, oferecer capacitações, construir um currículo e comprar e adequar o mobiliário das classes.

Capacitação dos profissionais
A mudança nos métodos de avaliação vai exigir profissionais preparados. Segundo o MEC, desde 2004 os professores estão sendo capacitados através de documentos com orientações gerais e cursos de atualização. Jeanete Beauchamp, diretora de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), destaca, a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação publicou em seu site (http://portal.mec.gov.br/seb) documentos com orientações gerais sobre o processo de implantação de mais um ano no Ensino Fundamental, além de uma proposta de formação continuada contendo dez programas sobre alfabetização e letramento.

Matrículas
O processo de matrículas e ingresso depende de cada estabelecimento de ensino. O sistema de oito anos deve ser oferecido aos alunos que já estão cursando o Ensino Fundamental. No geral, as escolas devem adotar um período de transição entre os dois modelos.

Pais
Em muitas escolas, há vários pontos da modificação na estrutura curricular e no ingresso de estudantes que ainda não foram desenvolvidos. Portanto, uma alternativa para os pais é acompanhar de perto e cobrar informações dos diretores e professores.

Momento de ingresso
Os alunos que já cursaram o último ano da pré-escola deverão ingressar no primeiro ou no segundo ano do Ensino Fundamental? Segundo o MEC, se a criança tiver 6 anos de idade incompletos, deve entrar diretamente na segunda série ou primeiro ano, caracterizando um procedimento de "não retrocesso no sistema educacional". No entanto, se a criança cursou o último ano da pré-escola com menos de 6 anos de idade, o MEC orienta que o ingresso no ensino fundamental seja feito na primeira série, já que o "trabalho desenvolvido no primeiro ano é uma ampliação do que foi desenvolvido na Educação Infantil, e não uma repetição".

* O MEC disponibiliza ainda, um folheto explicativo sobre o assunto. *
 
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