FERNANDES, Cláudia de O. A Escolaridade em Ciclos: Desafios para a escola do século XXI. RJ: WAK Ed, 2009.
Neste livro, Claudia Fernandes discute a tentativa de repensar a escola, sua (re) significação. A implementação dos ciclos ao longo das duas últimas décadas, caracteriza-se por uma tentativa da escola brasileira de superar o fracasso escolar, representado aqui com altos índices de repetência e evasão e, principalmente, o baixo desempenho dos estudantes. O livro apresenta a tese de que a escola em ciclos abriga diferentes lógicas de concepções e de funcionamento, é a desestabilização de uma ordem já estabelecida há séculos (sistema seriado) e os profissionais da educação estão construindo outras bases teóricas para a escola nesse começo de século XXI.
*** Simone Marta N. da Silva
Deixo aqui, alguns trechos do livro que merecem destaque:
1. Embora essas diferentes experiências e propostas tivessem suas peculiaridades, tinham em comum partir da premissa de que era necessário no ensino fundamental um sistema de avaliação que não excluísse o aluno da escola, tentando amenizar ou até resolver o problema da evasão e da repetência e, desta forma, contribuir para a melhoria da qualidade do ensino público. (FERNANDES, p.27)
* A autora pontua que a implementação dos ciclos ao longo das últimas décadas era excludente. Excluía os alunos das classes menos favorecidas (social e economicamente) da população. Fernandes relata então a implementação dos ciclos em diferentes redes de ensino no Brasil: em 1983, na rede estadual em SP, onde se instituiu o Ciclo Básico de Alfabetização para todas as escolas, tendo como marca principal alterar o sistema de seriação. Em MG, a partir de 1985, em caráter experimental, implementou-se o Ciclo Básico de Alfabetização, tornando-o oficial em 1990. No RJ, no final da década de 70 e início dos anos 80, implantou-se o Bloco Único: dois primeiros anos de alfabetização como um único ciclo e sem reprovação. SC teve experiência semelhante também na década de 80. No PR, o Ciclo Básico foi implantado em 1988 e 1989 sendo que em 1990, atingiu todas as escolas estaduais. Em comum, a necessidade de um sistema de avaliação que não excluísse o aluno, na tentativa de superar o fracasso escolar, aqui representado pela repetência e evasão escolar.
2. Podemos notar que a origem da implantação dos ciclos acontece a partir de justificativas não só pedagógicas mas também políticas. ( FERNANDES, p.27)
* Inicialmente, a ideia das escolas organizadas em ciclos associa-se pela não exclusão dos estudantes pertencentes das classes menos favorecidas. Além disso, visa amenizar ou resolver os elevados índices de repetência e evasão escolar. Melhorando assim a qualidade de ensino. Dessa forma, a implantação dos ciclos envolve essas justificativas pedagógicas e políticas.
3. Perrenoud defende a implantação do sistema de ciclos nas escolas, a partir de uma Pedagogia diferenciada, que tem como um de seus pressupostos os ciclos de aprendizagem plurianuais. (FERNANDES, p.41)
* As pesquisas e proposições de autores estrangeiros, como Perrenoud tem servido também de fundamento teórico para o sistema de ciclos. Para a formação de ciclos plurianuais, Perrenoud tece justificativas relacionadas às teorias de aprendizagem como também às práticas escolares, à organização do trabalho docente, à estruturação da escola e do sistema escolar. Perrenoud (2002b, p.37) distingue três conceituações para os ciclos:
** Pólo Mais Conservador **
Não provocam mudanças na organização curricular, na organização do trabalho docente, nas práticas de ensino. Dessa forma é mantida a mesma lógica de organização escolar e das práticas pedagógicas. A seriação e a avaliação classificatória permanecem.
1. Ciclos de Estudos: série de etapas anuais com programas de mesmo tipo. A repetência de uma etapa é possível.
2. Ciclos de Aprendizagem: possui as mesmas características dos ciclos de estudo, mas não há repetência no interior dos ciclos, exceto em seu último ano.
** Pólo Mais Inovador **
3. Ciclos Plurianuais: Ocorrem profundas mudanças na organização do currículo, do trabalho escolar e das práticas. Há uma predominância das orientações construtivistas em relação aos processos de aprendizagem, uma nova concepção para a utilização dos tempos e dos espaços escolares, dos saberes, sistemas de avaliação, metodologias de trabalho, didática e com relação às competências necessárias para a criação de uma escola que seja inclusiva e democrática
4. A partir dessas considerações, podemos afirmar que a escola em ciclos é uma escola conflituosa, uma vez que vem operando a partir de duas lógicas que exigem um planejamento e uma organização tanto da escola quanto da sala de aula, na maioria das vezes, bastante distintos. (FERNANDES, p.44)
* A lógica da escola seriada e da escola ciclada são distintas, por isso caso a escola ciclada esteja operando com a mesma estrutura da escola seriada, apenas mudando-se a nomenclatura, gera-se conflitos. Pois abrigaria assim, diferentes lógicas de concepções e funcionamento.
5. Retornando o debate acerca do fracasso escolar, esse se intensifica quando a maior parte da população passa a ter acesso à escolarização e a partir do momento em que o direito à educação básica se universaliza. No entanto, apesar desses avanços, a escola ainda mantém a mesma "ossatura rígida e excludente de um século. Continua [com] aquela estrutura piramidal, preocupada apenas com o domínio seriado e disciplinar de um conjunto de habilidades e saberes" (ARROYO, 2000, p.13), sem se organizar a partir de uma lógica de tempo, espaço e conhecimento cujo contexto atual se estrutura. (FERNANDES, p.63)
* Apesar dessa nova lógica do sistema ciclado que (re) estrutura a lógica do tempo, espaço e conhecimento, a maioria das escolas ainda mantêm o sistema seriado. Um sistema classificatório e excludente que não atende mais as exigências para essa nova escola do século XXI.
*** Graduanda do curso de Pedagogia da UERJ.