quarta-feira, 30 de junho de 2010

Documentos de identidade - uma introdução às teorias do currículo - Basil Bernstein – códigos de reprodução cultural

Tomaz Tadeu da Silva em seu livro: Documentos de identidade - Uma introdução às teorias do currículo traça um mapa dos estudos sobre currículo, dos anos vinte, até às atuais teorias pós-críticas.. Os capítulos são curtos, porém trazem as principais perspectivas sobre currículo.
Basil Bernstein, sociólogo inglês, é retratado em um capítulo denominado: códigos de reprodução cultural. O autor faz uma análise do currículo, segundo Bernstein, revelando seus códigos e reprodução cultural. Não usa o termo currículo, por justamente ocupar-se da palavra código, como sendo substituta do primeiro termo, sendo sua teoria uma forma sociológica de ver o currículo, pois está preocupado com as relações estruturais que o constituem. Bernstein quer saber como se dá a estruturalização do código. Usará a análise identificando os currículos de coleção, que são separados por disciplina, e o currículo integrado, que contempla a interdisciplinaridade.



Quando chega à escola, a criança é portadora de uma linguagem. Esta linguagem servirá para se exprimir, para comunicar, para se relacionar com os outros, ou seja, para se socializar. essa linguagem nasce a partir do crescimento físico e mental, sendo fruto do meio sócio-cultural da qual a criança faz parte. Mas esse desenvolvimento nem sempre ocorre de mesma maneira. O meio sócio-cultural e as relações familiares são fatores que podem modificar esse processo.
Basil Bernstein desenvolve alguns conceitos fundamentais e entre eles classificou e identificou dois padrões de fala: o código restrito e o código elaborado. É a posição social que determina o código a ser aprendido. O código restrito é usado, normalmente, entre as classes sociais mais baixas, sendo menos informativo e o código elaborado, usado, mais frequentemente, pela classe média, possui mensagens mais complexas.

A língua não é só um instrumento de comunicação ou conhecimento, é também um instrumento de poder e controle. Torna-se por isso necessário que o professor conheça os seus alunos, com as suas características pessoais, as suas capacidades, as suas dificuldades, o grau de autonomia e socialização.

Resumindo o capítulo: Basil Bernstein - códigos de reprodução cultural, temos:

  • O conhecimento educacional formal realiza-se por 3 sistemas de mensagem intimamente imbricados: currículo, pedagogia e avaliação.

  • Preocupação com as relações estruturais entre os diferentes tipos de conhecimento que constituem o currículo.

  • Percebe o currículo tradicional como fortemente classificado, em contraposição ao interdisciplinar.

  • Diferentes códigos culturais:

  1. Código elaborado : relativamente independente do contexto local.

  2. Código restrito : o “texto” produzido na interação social é fortemente dependente do contexto.

  • Aprende-se o código em diversas instâncias sociais , dentre elas a família e a escola.

  • O aprendizado dos códigos culturais ocorre de forma implícita , na vivência das estruturas sociais em que o código se expressa.

  • Esforço em compreender as razões do fracasso educacional e o papel das diferentes pedagogias no processo de reprodução cultural .

  • Atenção para a diferença entre o código elaborado proposto pela escola e o código restrito dos estudantes de classes populares .

  • Questionamento do papel da escola no processo de reprodução cultural e social .
SILVA, Tomaz Tadeu Da. Documentos de identidade - uma introdução às teorias do currículo. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

Indagações sobre Currículo - Educandos e Educadores: seus Direitos e o Currículo


Fazendo parte da coleção Indagações sobre Currículo, editada em 2007 pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação do Brasil temos o texto Educandos e Educadores: seus Direitos e o Currículo de Miguel G. Arroyo que nos oferece uma profunda reflexão sobre aspectos do currículo.


Para Arroyo (2007) algumas questões merecem destaque, “o currículo, seu ordenamento, suas hierarquias, a segmentação dos conhecimentos em disciplinas, cargas horárias não condicionam nosso trabalho?”. “Os esforços por formas de trabalho docente mais humano não estão condicionados pelo ordenamento dos currículos?”. Além disso, “como a organização curricular condiciona a organização da escola e por consequência do nosso trabalho?”. E “que organização dos currículos e da escola tornará nosso trabalho mais humano?”. Depois: “que lógicas, concepções, valores regem, legitimam essa organização?” “São igualitárias, democráticas, inspiradas no referente político da garantia do direito de todos ao conhecimento, à cultura, à formação como humanos?” “São lógicas que permitem a humanização do trabalho dos profissionais das escolas?” “que igualam ou hierarquizam os docentes?”. Essas e algumas outras questões são abordadas, e o autor deixa claro que estas indagações sobre o Currículo nos levam a repensar lógicas e valores que estruturam a organização curricular.


Arroyo (2007) afirma que deve-se reagir à condição de aulistas e avançar na autoria de nossa prática, reivindicando horários de estudos, planejamento, tempos de atividades programadas, tempos coletivos. Temos assim, sujeitos mais qualificados e com maiores tempos de qualificação e controle de seu trabalho. Constata-se que dessa forma ameniza-se o mal-estar nas escolas na relação educando e educador. Além de outras questões como indisciplinas, desinteresse e problemas de aprendizagem.
De acordo com Arroyo (2007), os educandos devem ser reconhecidos como sujeitos da ação educativa e não vê-los apenas como empregáveis, como mercadoria para o emprego. Os educadores por sua vez, nessa perspectiva são vistos como treinadores e preparadores de mão-de-obra habilitada. Superar essa visão será precondição para repensar os currículos. Segundo o autor,

Guiados pelo imperativo ético do respeito aos educandos, como sujeitos iguais de direitos, seremos levados a construir novas formas de ordenamento dos conteúdos que garantam não apenas o direito igual de todos ao conhecimento, à cultura, aos valores, à memória e à identidade na diversidade, mas que garantam a igualdade de todo conhecimento, cultura, valores, memórias e identidades sem hierarquias, segmentações e silenciamentos. (ARROYO, 2007, p.38)

Dessa forma, vê-se os educandos na “sua totalidade humana, como sujeitos cognitivos, éticos, estéticos, corpóreos, sociais, políticos, culturais, de memória, sentimento, emoção, identidade diversos... Vê-los não recortados nessas dimensões, mas em sua totalidade humana”. Assim, incorporando a formação dessa pluralidade de dimensões, consequentemente enriqueceremos os currículos, a docência e a pedagogia.

Acabamos assim nos defrontamos com dois referentes na organização curricular: o referente do mercado e o referente dos direitos dos educandos e educadores. Afinal, o que fazer? Se equacionamos os conhecimentos e as competências no referente do mercado, nós nos limitamos e cosequentemente temos uma visão utilitarista, parcializada e segmentada do conhecimento e do currículo. Porém, se equacionarmos esses mesmos fatores no referente do direito de todo ser humano,  nós teremos um currículo mais plural e rico. Um currículo que não secundarize, antes inclua com destaque, mas com o direito, a oralidade, a escrita, a matemática, as ciências e as técnicas de produção, o domínio dos instrumentos e equipamentos culturais produzidos para qualificar o trabalho como atividade humana.


ARROYO, Miguel G. Indagações sobre Currículo: Direitos e o Currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2007, 52p.
 
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